terça-feira, 5 de outubro de 2010

Romance provisório.

Dois corpos, um sofá pequeno demais para nós dois. Rostos embriagados de melancolia. Pés trêmulos. Seus dedos eram longuíneos, o suficiente para cobrir os meus enquanto me perdia em pretextos inválidos. Transpirava segurança. A televisão sussurrava a nossa frente e tudo o que conseguíamos fazer era não ouvir. Palavras do cômodo ao lado eram distantes.
Seu rosto virou em 60°. O repreendi por pensamento. Não havia mais desculpa. O intervalo tinha começado na TV. Completou 120° desatadamente. Dois grandes canos me perfuravam a alma. Eram seus olhos. Virei-me a sua face. Eram dois grandes canos de uma dimensão interminável no apocalipse dele. Dois cantos de boca. Respiração angustiada. Tanto a ser dito e o não dizer nada.. Trocas de meia-duzia de palavras, que nada diziam:
- Seus dedos são longos.
- Tenho sorte. - Pausa, a típica pausa entre seus longos cílios flexionados - Por eles fazerem por mim o que minha mente inquietante me faz tremer.

Minha boca se estendeu em dois grandes cantos na bochecha. O busto se estufou. Ele acompanhou. Os olhos se encontraram na mesma dimensão do infinito, fechados.
A programação na TV voltou. O comercial havia passado.
Mas seus longíneos dedos continuavam lá, cobrindo os meus, intocáveis, imudáveis. Segurança.
Tanto a ser dito e o não dizer nada..parecia o suficiente e já não nos incomodava. A televisão nos salvou de nós mesmos. Esperamos o próximo comercial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário