quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Versinhos de um telefone qualquer.

E eu sei
Que quando você não acreditar
Que o amor pode existir
Você me ligará
Me fará traduzir
O que acha que te encendeia
Do tempo que já passou
Mas que regressa em cada instante
Nos olhares, nas fotografias da estante
Que você ainda não guardou

Pois te digo, meu querido
Quando você me ligou
Eu soube que jamais teria
Alguma mais bela companhia
Do que aquele que me liga
Que não combina, nem avisa
As dez da noite de outro dia
Emplorando minha estadia
Em seu coração.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Acho que o amor é como um achocolatado que tomamos por impulso sem parar para respirar. Acho também loucura associar duas coisas tão genericamente diferentes, mas me levo a pensar se será que é verdade mesmo. O amor é doce, o achocolatado também. E todo chocolate apresenta vários tipos específicos: Tem amargo, meio amargo, ao leite... E o amor, sinteticamente, também. O achocolato pode ser tão gelado que nos dói os dentes, quanto o amor pode ser tão frio que cai na rotina, cai no comum. Ou tão quente que nos faz queimar a língua, ou no amor que alimenta a fome do desejo e rejuvenesce.
No final, os efeitos são os mesmos: Prazer temporário, e tenho dito! Durante os 5 minutos enquanto o achocolatado é aprovado pela nossa saliva, ou enquanto o amor se instala no nosso coração e nos vira a cabeça. É sempre um efeito rápido, que pode causar colaterais depois: A sensação de estar cheia ou o enjôo é presente nos dois complexos.
Há também mitos, mistérios que envolvem as duas receitas: Em geral, sobre suas consequências físicas e mentais. O chocolate nos provoca o prazer, ou o amor que nos encendeia? As espinhas realmente aparecerão, ou realmente tudo acaba?

Nós, mulheres, no auge de nossa segurança feminina declaramos: "Homem não pode ver rabo de saia que fica louco!", mas temos que concordar, por mais que isso seja vergonhoso para nossa sempre correta disciplina que não podemos ver um boné, uma bermuda, ou um perfume que seja e nos arrepiamos e ficamos louca devorando vários pedaços de chocolate, oferecendo vários pedaços de chocolate e associando pela eternidade esses "detalhes" a alguém que nos tira o sono. É fato, nós mulheres somos louca por chocolate. Somos louca por amor.

Mas isso vai muito além de uma pequena realidade. Na verdade, desde sempre fomos fanáticas pelo sexo oposto muito além do que pelas regras opostas pela sociedade ou pela religião. Lá no primário já fazíamos corações e namorávamos em segredo o menino mais bem feitinho da sala ou menos pentelho ou mais pentelho, que seja.. Ah, e quem nunca se apaixonou pelas espinhas opostas na adolescência no famoso amor-proibido-é-meu-melhor-amigo? Quando vai se tornando grandinha a coisa fica complicada, vira e mexe estamos "ajuntados" com alguém mas não é nada específico. É complicado. Adoramos complicações.

Volto a citar: Nós mulheres somos loucas por chocolate. Conheço pouquíssimas exeções. E fazemos martírio mesmo: Quando ele acaba, recorremos a todos os outros tipos de doce depressivos e mais salgados.. É uma velha mania, afinal. Ah, e como gostamos de doar chocolate, não é mesmo? De tomar chocolate, de comer chocolate.. E puft, nos engasgamos frequentemente!
Engordamos e nos martirizamos pelo bombom do dia anterior. Danado, tsc tsc tsc.
As espinhas também pipocam no rosto, diz a lenda. Mas que se dane, tudo acaba em chocolate (não seria pizza?) no final mesmo.

Não sou fã de chocolate porque prejudica minha dieta, mas quer saber? Todo dia sempre acabo provando um pedacinho daqui ou um acolá. E sem culpa, feliz da vida. Mando pro brejo toda essa história de espinhas ou de quilinhos a mais. O chocolate me aceita como sou. E sabe o que mais? Quero mais é passar o resto da minha vida me entupindo de chocolate MESMO! Chocolate com TV, com PC ou com o que mais sei lá o que. Vou viver de chocolates, de doar chocolates e ser feliz no chocolate. Em todos seus diferentes estados, do mais amargo ao mais doce... E fazendo deliciosos achocolatados, tomando por impulso feliz mesmo. Mas aos poucos, para não engasgar..

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Romance matemático.

A irregularidade do seu sujeito era comovente. Simples e acompanhado sempre de um verbo na primeira pessoa do singular. Falava como se as palavras fossem expulsas de um coração cansado. Suas mãos eram suadas e a mente, inquieta. Respirava os números, parecia psicografar as contas e se concentrava no tumulto do dia-a-dia.
Ela era dupla. Na verdade, tripla, e muito bem dividida. A bitransitividade era regular. Dividia-se entre vida e sonho, sonho e vida, de forma unitária, e com os mesmos valores X. Sua alma era cortada por uma reta. Uma reta desvinculada, e que dizia-se ter continuação: E tinha!
A continuação dessa reta levava para suas raízes mais profundas e menos nítidas, porém mesmo que assim, as mais bonitas. Era típico. O mais difícil de ser encontrado é o extremo. Em seu caso, o extremo do belo. As velhas memórias e as falsas lembranças. Os tristes sorrisos e os olhos "pupilados".
Apaixonaram-se.
O distante e a distância. O interminente e a sem fim. Foi-se descobrindo na sua reta principal e se perdendo como tudo na vida. A desenhou. Calculou. E descobriu que os dois lados, perfeitamente separados e de valor unitário entre o sonho e a vida... Não estavam corretos. O ângulo não era exato. A sua reta apontava para um lado mais distante, afinal? O sonho, ou a vida?

Acordou. O sonho acabou. Era sonho. Seu lado extremista, o fim do seu começo e a verdade deprimida era que são duas realidades diferentes. E muito bem divididas. Mesmo que subtendidas.. acorda-se. Bom dia, Bissetriz.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Romance provisório.

Dois corpos, um sofá pequeno demais para nós dois. Rostos embriagados de melancolia. Pés trêmulos. Seus dedos eram longuíneos, o suficiente para cobrir os meus enquanto me perdia em pretextos inválidos. Transpirava segurança. A televisão sussurrava a nossa frente e tudo o que conseguíamos fazer era não ouvir. Palavras do cômodo ao lado eram distantes.
Seu rosto virou em 60°. O repreendi por pensamento. Não havia mais desculpa. O intervalo tinha começado na TV. Completou 120° desatadamente. Dois grandes canos me perfuravam a alma. Eram seus olhos. Virei-me a sua face. Eram dois grandes canos de uma dimensão interminável no apocalipse dele. Dois cantos de boca. Respiração angustiada. Tanto a ser dito e o não dizer nada.. Trocas de meia-duzia de palavras, que nada diziam:
- Seus dedos são longos.
- Tenho sorte. - Pausa, a típica pausa entre seus longos cílios flexionados - Por eles fazerem por mim o que minha mente inquietante me faz tremer.

Minha boca se estendeu em dois grandes cantos na bochecha. O busto se estufou. Ele acompanhou. Os olhos se encontraram na mesma dimensão do infinito, fechados.
A programação na TV voltou. O comercial havia passado.
Mas seus longíneos dedos continuavam lá, cobrindo os meus, intocáveis, imudáveis. Segurança.
Tanto a ser dito e o não dizer nada..parecia o suficiente e já não nos incomodava. A televisão nos salvou de nós mesmos. Esperamos o próximo comercial.